Niterói

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Túnel misto pode ser a nova ligação entre o Rio de Janeiro e Niterói

Projeto, que permite a construção da linha 3 do Metrô, serve a carros e ônibus e ligará o Parque do Flamengo ou Centro do Rio ao Gragoatá. Estado analisa outra opção viária

Quando o imperador D. Pedro II anunciou a intenção de uma ligação entre o Rio de Janeiro e Niterói em 1875 não podia imaginar que depois de 125 anos a discussão voltaria à tona. Depois de 35 anos da construção da Ponte Presidente Costa e Silva, a Rio-Niterói, outra via de ligação com a capital começa a ser discutida.
Na última terça-feira, em visita à Fundação Oscar Niemeyer, o governador Sérgio Cabral Filho, em uma conversa reservada, convocou o prefeito Jorge Roberto Silveira para um almoço com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), em janeiro, para discutir o projeto de construção de uma nova ligação entre as duas cidades, entre o monumento do Estácio de Sá, no Parque do Flamengo, e o Gragoatá. O Estado ainda analisa uma outra alternativa saindo do Centro do Rio, na Ponta do Calabouço.
O Governo planeja tirar do papel, no segundo mandato de Cabral à frente do estado, o projeto de ligação entre as cidades, resolvendo um dos maiores problemas viários da Região Metropolitana. O secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, praticamente descartou a construção de uma nova ponte e defende uma ligação submarina mista (metro e carros) como uma alternativa viável para a solução do problema.
“Acho que a ligação prioritária tem que ser a ferroviária, com a Linha 3 do metrô, que é uma ligação de massa, mas não podemos descartar a hipótese de uma ligação rodoviária, que pode ser feita em conjunto”, afirma Julio Lopes.
Reunião sobre o tema já teria sido agendada
Na terça-feira, os dois principais homens do Governo Cabral, o vice-governador Luis Fernando de Souza, o Pezão, e o senador Regis Fichtner, que comandou a Casa Civil, confirmaram a reunião com os prefeitos para discutir o projeto. Apesar do mistério em torno da proposta, Julio Lopes acredita que o início da discussão pode ser um indício da intenção de executar o projeto, ou “os projetos”.
“Mesmo que não seja algo a ser realizado imediatamente, uma outra ligação entre as cidades do Rio e Niterói é absolutamente necessária de ser pensada. Porque a Ponte Rio-Niterói está visivelmente esgotada e nós precisamos aproximar cada vez mais as duas cidades. Acho que essa conversa, esse anúncio do Cabral, faz todo o sentido. Importante agora é ver em que prazo isso pode ser executado. Tenho certeza que com esse anúncio não faltarão modos de estar aprofundanda esta discussão e buscando viabilizar estes empreendimentos”, comenta o secretário.
Durante a inauguração da Fundação Oscar Niemeyer, o prefeito Jorge Roberto Silveira não confirmou como será feita a ligação. Questionado se seria uma nova ponte que sairia do Parque do Flamengo até o Gragoatá, o prefeito preferiu falar somente em uma nova ligação. “Não é bem uma ponte. Vamos falar de uma ligação entre Niterói e o Rio. Não tenho muitos detalhes do projeto. Vamos conversar em janeiro”, desconversou, dizendo ainda que o traçado do projeto é o mesmo proposto à D. Pedro II que previa uma ponte entre o Centro do Rio ao Gragoatá, mas se contradizendo ao afirmar que a ligação sairia do monumento de Estácio de Sá, no Aterro do Flamengo.
Conforme antecipou a Coluna Informe da última quarta-feira, em janeiro o governador Sérgio Cabral receberá os prefeitos Jorge Roberto e Eduardo Paes, em um almoço, para apresentação da proposta escolhida.
História – Em 1875, o engenheiro inglês Lindsay Bachnal propôs uma ligação entre a Ponta do Calabouço, no Centro do Rio; e o bairro do Gragoatá, em Niterói. Contudo, pouco tempo depois, desistiu do projeto por excesso de burocracia. A ligação voltou a ser defendida sem sucesso em 1932 e 1957. Somente na década de 70 o projeto foi à frente, mas de modo diferente, com a construção da Ponte Rio-Niterói.
Com o aumento do fluxo de veículos sobre a via, no final na década de 90, o Estado voltou a debater a questão, apontando como saída a construção de uma ligação submarina para desafogar os mais de 140 mil veículos que trafegam por dia entre as duas cidades.
No início dos anos 2000, o Estado anunciou a construção da Linha 3 do metrô, mas o processo ficou retido no Tribunal de Contas (TCE) por conta de irregularidades no projeto básico. Atualmente, com os investimentos no Complexo Petroquímico (Comperj), pelo menos parte desse projeto tem a promessa de sair papel, fazendo ligação entre Niterói e Itaboraí. n
Alternativas
Engenheiros especialistas em transportes estão divididos a respeito dos projetos estudados pelo governo estadual. O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, defende a continuação da Linha 2 do Metrô, atravessando a Baía da Guanabara embaixo d’água até Niterói. Já Antônio Eulálio Barbosa, membro do Clube de Engenharia do Rio, sugere a construção de uma nova ponte só para veículos leves.
“A Região Metropolitana do Rio de Janeiro andou para trás em relação a transporte público de massa. Todas as nações desenvolvidas investem pesado em transporte de trens e metrô e o rodoviário tem até 35% de uso, servindo de complemento aos demais meios. Trens e metrôs atendem a três requisitos básicos de transporte de massa: rapidez, conforto e segurança. No mundo inteiro é assim. No Brasil, é onde mais se usa ônibus, que não é seguro, nem confortável nem rápido”, observa Guerreiro.
Para o presidente do Crea-RJ, uma linha de metrô ligando a Cruz Vermelha, no Rio, até Niterói, seria a melhor alternativa. “A linha começaria na altura da Cruz Vermelha, no Centro da capital, passando pelo Largo da Carioca, a Praça XV e a Baía da Guanabara, debaixo d’água, até Niterói, próximo à Estação das Barcas, no Centro”, acredita.
Já Antônio Eulálio defende a construção de uma nova ponte ligando o bairro de São Francisco, a Botafogo, ou na altura do Morro Cara de Cão, na Urca. “Por essa ponte passariam apenas veículos leves, como carros de passeio e micro-ônibus. Caminhões não, pois aí aconteceriam os mesmos problemas que hoje acometem a Ponte Rio-Niterói. Haveria ainda outra ponte, mais baixa, com 25 metros acima do nível do mar, ligando as rodovias Washington Luiz e a Dutra, para desafogar o trânsito. Seria importante também fazer uma nova linha de barca entre São Gonçalo e Rio. A ponte entre São Francisco e Botafogo desafogaria o trânsito e não prejudicaria o tráfego aéreo”, diz Eulálio, que é membro da Associação Brasileira de Pontes e Estradas e coordenou a construção da Linha Amarela, da Ponte Rio-Niterói e da Linha 2 do Metrô.

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